segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Do perdão



Amar o próximo como a mim mesma: é essa a medida do amor e, portanto, do perdão, sobretudo para mim, que creio em Jesus Cristo como Filho de Deus e Salvador dos homens.

Embora escute isso desde o meu sempre, uma vez ou outra, essas palavras passeiam pela minha alma e parecem significar de novo, parecem sair do marasmo assemantizado das palavras incessantemente repetidas. Precisamente quando eu preciso perdoar.

Pensei, então, nesses dias que o perdão é algo que, em alguma instância, você dá a si, ainda que nem tenha consciência disso. Por vezes, quem ofendeu ou feriu não pode, não sabe ou não quer pedir perdão e esperar que uma retratação venha de quem, muito provavelmente, jamais conseguirá conceber a vida de uma perspectiva que não seja a sua própria é sofrer e sofrer e sofrer repetidamente o mesmo mal. O perdão é, então, de algum modo, a minha liberdade – para nem mencionar que é a condição para que eu também seja perdoada: “Perdoai as nossas dívidas como perdoamos a quem nos tem ofendido”.

A igreja brasileira, católica e/ou evangélica, repete alguns chavões sobre o ato de perdoar: “Perdoar é esquecer.”; “Se você não esquece, você não perdoou.”; “Se você perdoou de verdade, você consegue tratar a pessoa do mesmo jeito que a tratava antes.”... Considerando o mandamento de amar o próximo como a mim mesmo, sinceramente duvido desses clichês. Eu não esqueço meus erros e meus pecados, embora tenha, muitas vezes a muito custo, conseguido me perdoar de tê-los cometido. É precisamente essa lembrança que me faz evitar circunstâncias que, porventura, proporcionem uma nova situação de erro e pecado e, consequentemente, sofrimento. E nisto eu estou me amando muitíssimo. Não vejo, portanto, porque dar a quem me ofendeu a chance de me causar um novo sofrimento, se eu não dou essa chance nem a mim.

Perdoar é, portanto, segundo C.S. Lewis, desejar o bem ao próximo. “É isso que a Bíblia quer dizer com o amor ao próximo: desejar o seu bem, sem ter de sentir afeto nem dizer que ele é gentil quando não é” (LEWIS, 2009, p. 159). É preciso muito esforço de alma para querer, em sinceridade, que quem feriu, traiu, ofendeu, desconsiderou e rejeitou seja feliz, alcance sucesso, tenha saúde e paz, seja abençoado, enfim. E digo que é preciso muito esforço porque é muito difícil aceitar que o outro não nos amou como nós, quem sabe, o amamos. Querer sinceramente que quem eu amo seja feliz e abençoado longe de mim é uma das coisas mais difíceis para a alma humana, penso eu. Da mesma forma, é difícil manter a opção pela distância de quem se ama, mas faz mal, em nome da sanidade da alma e do espírito. Em muitos casos, porém, essa decisão é pré-requisito para uma vida em paz.

“Amar o outro significa deixá-lo ser o que ele pode ou quer ser”, disseram-me um dia desses. Assim, se um/a amigo/a, por exemplo, desfez-se de qualquer chance que eu tenha lhe oferecido para desfazer mal-entendidos e optou pelo silêncio ou, ainda, jamais procurou saber de minhas versões concernentes a um problema, embora tenha despejado “eu te amos” sem fim em conversas amigueiras, talvez o melhor mesmo seja deixá-lo/a ir da intimidade da minha vida. Deixá-lo/a ir ou, quem sabe, retirá-lo/a mesmo da minha vida, não sem dor, é claro, mas sempre orando para que Deus dê a ele/a as graças que peço para mim: a felicidade, a correção divina, o amor, a disciplina, a caridade, o arrependimento sincero e tantas outras. Isso, sabemos, não é nada fácil, mas é tratá-lo/a como eu trato a mim. É amá-lo/a como eu me amo.

Susy Almeida
10.12.12
Fortaleza-CE