Amar
o próximo como a mim mesma: é essa a medida do amor e, portanto, do perdão,
sobretudo para mim, que creio em Jesus Cristo como Filho de Deus e Salvador dos
homens.
Embora
escute isso desde o meu sempre, uma vez ou outra, essas palavras passeiam pela
minha alma e parecem significar de novo, parecem sair do marasmo assemantizado
das palavras incessantemente repetidas. Precisamente quando eu preciso perdoar.
Pensei,
então, nesses dias que o perdão é algo que, em alguma instância, você dá a si,
ainda que nem tenha consciência disso. Por vezes, quem ofendeu ou feriu não
pode, não sabe ou não quer pedir perdão e esperar que uma retratação venha de
quem, muito provavelmente, jamais conseguirá conceber a vida de uma perspectiva
que não seja a sua própria é sofrer e sofrer e sofrer repetidamente o mesmo
mal. O perdão é, então, de algum modo, a minha liberdade – para nem mencionar
que é a condição para que eu também seja perdoada: “Perdoai as nossas dívidas
como perdoamos a quem nos tem ofendido”.
A
igreja brasileira, católica e/ou evangélica, repete alguns chavões sobre o ato
de perdoar: “Perdoar é esquecer.”; “Se você não esquece, você não perdoou.”;
“Se você perdoou de verdade, você consegue tratar a pessoa do mesmo jeito que a
tratava antes.”... Considerando o mandamento de amar o próximo como a mim
mesmo, sinceramente duvido desses clichês. Eu não esqueço meus erros e meus
pecados, embora tenha, muitas vezes a muito custo, conseguido me perdoar de
tê-los cometido. É precisamente essa lembrança que me faz evitar circunstâncias
que, porventura, proporcionem uma nova situação de erro e pecado e,
consequentemente, sofrimento. E nisto eu estou me amando muitíssimo. Não vejo,
portanto, porque dar a quem me ofendeu a chance de me causar um novo sofrimento,
se eu não dou essa chance nem a mim.
Perdoar
é, portanto, segundo C.S. Lewis, desejar o bem ao próximo. “É isso que a Bíblia
quer dizer com o amor ao próximo: desejar o seu bem, sem ter de sentir afeto
nem dizer que ele é gentil quando não é” (LEWIS, 2009, p. 159). É preciso muito
esforço de alma para querer, em sinceridade, que quem feriu, traiu, ofendeu,
desconsiderou e rejeitou seja feliz, alcance sucesso, tenha saúde e paz, seja
abençoado, enfim. E digo que é preciso muito esforço porque é muito difícil
aceitar que o outro não nos amou como nós, quem sabe, o amamos. Querer
sinceramente que quem eu amo seja feliz e abençoado longe de mim é uma das
coisas mais difíceis para a alma humana, penso eu. Da mesma forma, é difícil
manter a opção pela distância de quem se ama, mas faz mal, em nome da sanidade
da alma e do espírito. Em muitos casos, porém, essa decisão é pré-requisito
para uma vida em paz.
“Amar o outro significa deixá-lo ser o que ele
pode ou quer ser”, disseram-me um dia desses. Assim, se um/a amigo/a, por
exemplo, desfez-se de qualquer chance que eu tenha lhe oferecido para desfazer
mal-entendidos e optou pelo silêncio ou, ainda, jamais procurou saber de minhas
versões concernentes a um problema, embora tenha despejado “eu te amos” sem fim
em conversas amigueiras, talvez o melhor mesmo seja deixá-lo/a ir da intimidade
da minha vida. Deixá-lo/a ir ou, quem sabe, retirá-lo/a mesmo da minha vida, não
sem dor, é claro, mas sempre orando para que Deus dê a ele/a as graças que peço
para mim: a felicidade, a correção divina, o amor, a disciplina, a caridade, o
arrependimento sincero e tantas outras. Isso, sabemos, não é nada fácil, mas é
tratá-lo/a como eu trato a mim. É amá-lo/a como eu me amo.
Susy Almeida
10.12.12
Fortaleza-CE