domingo, 31 de março de 2013

Da crença na ressurreição de Jesus, o Cristo




“Tomé, porque me viste, acreditaste? Bem-aventurados os que não viram e creram!”



Evangelho de João, capítulo 20, verso 29.




Há três ou quatro anos, ouvi a pregação de um líder cristão jovem feita por ocasião da Páscoa. Foi uma pregação bem curta, mas muito direta, que praticamente começou e terminou com a seguinte frase: “É preciso crer que Jesus ressuscitou dos mortos, porque não é possível ser cristão sem crer que Jesus ressuscitou dos mortos, literalmente.”.


Embora eu seja cristã e creia no fato da ressurreição do Cristo já há um tempo considerável, tive um sobressalto ao ouvir essas palavras. Em primeiro lugar, porque, naquele instante, a singularidade e a centralidade da ressurreição para a fé cristã assaltaram meu credo íntimo, como a confrontá-lo e a inquirir sua autenticidade. Esses momentos em que o habitual é rasgado são justamente os que proveem renovo de sentidos e significação ao que se é. Em segundo lugar, porque, àquela altura, eu já havia ouvido inúmeras teorias – inclusive, pretensamente cristãs – que, para não largarem mão do que nossa mente entende e aceita como provável ou possível, figurativizavam ou metaforizavam o texto dos Evangelhos que apresenta o retorno de Jesus da morte. Essas teorias eram, claro, mais racionais do que crer que alguém que era morto, agora, vive e, segundo elas, era preciso entender que a ressurreição é apenas um símbolo de que devemos ter a fé renovada ou algo do tipo. Ver, então, um cristão jovem, em posição de liderança e diante de várias pessoas aptas a questioná-lo “racionalmente”, digamos, indo tão convictamente na contramão do que teorias recentes – algumas nem tanto – afirmam sobre um fato antigo teve, sim, seu ineditismo.




De lá para cá, lembro-me dessa pregação todos os anos. Num mundo que se gaba sempre e mais de pensar cientificamente – sem, muitas vezes, questionar as premissas políticas ou filosóficas das quais partem determinadas pesquisas científicas –, milagres não são bem-vindos, a menos que retirem alguém querido do caos de alma em que se vive, claro. Ainda assim, uma resposta natural, adequada a nossas percepções e sentidos, será buscada rapidamente, porque é esta a que é aceita. Assim, o que dizer da ressurreição de Jesus?


A questão é que é sobrenatural o que escapa à nossa percepção do que seja natural, como alguém já disse. Para quem fundou o mundo, estabelecendo-lhe, inclusive, limites de ordem física, impondo-lhe a irreversibilidade de praticamente tudo o que se diz, se faz e se vive aqui, o que é natural? Confiar cegamente na nossa percepção para decidir a própria fé, os próprios valores, enfim, a própria vida, parece-me de uma leviandade considerável, porque valer-se somente do que percebemos é valer-se somente do próprio umbigo. E se o umbigo oferece péssimas perspectivas do que seja a vida, que perspectivas ele oferece do que seja a Vida?


“É preciso crer que Jesus ressuscitou dos mortos, porque não é possível ser cristão sem crer que Jesus ressuscitou dos mortos, literalmente.”. Metaforizar o retorno do Cristo à vida não é crer em Cristo, é crer, na melhor das hipóteses, num homem que foi um exemplo de moral, apenas. E, como disse C. S. Lewis (2009, p. 70), “ele não nos deixou essa opção, e não quis deixá-la”.

Susy Almeida
31.03.13


LEWIS, C. S. Cristianismo puro e simples. São Paulo: Martins Fontes, 2009.