De tempos em tempos assoma um
impulso surdo, mas certeiro, de escrever. Um impulso daqueles que parecem falar
somente na carne, que, embora prescindindo de qualquer inteligibilidade linguística,
são claros como as intuições mais pontuais. Escrever o que é que eu não sei,
porque qualquer coisa que se insinue parece pedir ao mesmo tempo que eu a
mantenha ali, encerrada no útero da minha alma, como a pedir-me que não dê à
luz, não ainda, quem não está pronto.
Se, por um lado, a alma se debate
na certeza de nunca haver prontidão consumada, por outro, tranquiliza-se por
lembrar que está traçado para a humanidade o crescer após nascer. E crescer de
maneira que não se pode medir. A salvação, alguns dizem, é crescer.
Creio que sim.
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