sábado, 8 de agosto de 2009

Crônicas do Velho Mundo novo - De sonho e de sangue

Já tem mais de uma semana que fiz aniversário, mas, tanto nos dias anteriores à data como nos posteriores, a realidade de completar 25 anos me pareceu de uma beleza muito nova. Talvez porque os longínquos 20 e tantos anos ansiosamente esperados pela menina que fui chegaram. Talvez porque tenha sentido uma certa paz ao observar o saldo de meus caminhos. Talvez por causa da vida e da Vida. Ou talvez por causa disso tudo.

Nesses dias, gastei tempo em fazer um paralelo entre a vida de minha mãe e a minha. Ou o fiz naturalmente, como qualquer pessoa que se apóia em seus referenciais para ter a certeza externa de que está tudo certo. Algumas (des)semelhanças entre mim e minha mãe chegam a ser, no mínimo, interessantes. Na minha idade, ela tinha a experiência de um ano vivido longe de casa – no interior do Ceará –, já era casada, inclusive no papel, com um homem moreno e estava às vésperas de engravidar pela primeira vez. Tenho a experiência de um ano fora de casa – bem longe do Ceará – sou solteira, pelo menos no papel, com um homem moreno e suponho que não esteja às vésperas de engravidar pela primeira vez. Acredito que demorarei ainda mais um tempo até ter o prazer de transmitir a alguém o legado de nossa miséria, parafraseando Machado.

Pensei também sobre meus credos e valores. Sobre os que atravessaram os anos e sobre os que vieram há pouco tempo. Creio muito simplesmente que um dos sentidos da vida diga respeito à consciência do grande ineditismo de viver o já vivido. Embora a vida consiga fazer-se repetida, ou constitua-se de fazer-se repetida, o ineditismo está em ser ela minha única chance de provar o já vivido. Tal consciência exalta diante de mim aquilo que um amigo chama de chão da existência e dá à vida, à minha vida, a sensatez mínima para entender que a Vida tem a irrevogável faculdade de ser maior.

Comemorei meus dias com viagens inéditas a lugares já visitados através das narrações alheias: Inglaterra e Viena. A primeira foi visitada por meio de um presente de Katharina, primeira amiga alemã. A segunda porque achei, em meio aos valores vindos há pouco tempo, que merecia ir a Viena. A primeira, um sonho da adolescente de 13, 14 anos, que cresceu ouvindo músicas de Pholhas, Beatles, ABBA, influências paternas, e de umas bandinhas pop rock que fizeram a trilha sonora de parte daquele tempo. A segunda, uma vontade instantânea e impetuosa da mulher de 24, 25 anos que, quase num átimo, decidiu ir a Viena sem nem saber muito sobre a cidade. As duas viagens, prazeres muito bem vividos. Nas duas viagens, uma gratidão a Deus que pretendo conservar em mim.

Sei que tenho 25 anos de sonho e de sangue, mas nem todos de América do Sul, e que meu primeiro quarto de século é, pra mim, um verdadeiro fascínio. Não porque não houve dores ou porque as que houve já não doam mais, mas por ter sido minha chance de provar o já vivido, minha chance de entrar em contato com o mistério da Vida.



Susy Almeida

Colônia, 05.08.09

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